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Olá a todos..... Primeiramente obrigado pela visita ao blog, que possa contribuir de alguma maneira para o conhecimento de todos. Objetivo é falar um pouco de algumas patologias neurológicas e tratamentos fisioterapêuticos. Alguns texto foram retirado dá própria web. Toda críticas e elogios serão bem vindo! Obrigado, e boa leitura... "Conhecimento guardado é conhecimento morto"

PARALISIA CEREBRAL E FATORES DE RISCO AO DESENVOLVIMENTO MOTOR: UMA REVISÃO TEÓRICA


ARTIGO MUITO INTERESSANTE, SOBRE ENCEFALOPATIA CRÔNICA NÃO PROGRESSIVA OU PARALISIA CEREBRAL)


Não é de minha autoria: segue na integra e no final do artigo a pagina de onde foi retirado.

                   
Cadernos de Pós-Graduação em Distúrbios do Desenvolvimento, São Paulo, v.9, n.1, p.142-163, 2009 
                    
PARALISIA CEREBRAL E FATORES DE RISCO AO DESENVOLVIMENTO MOTOR: 
UMA REVISÃO TEÓRICA 
Elisângela Andrade Assis-Madeira¹ 
Sueli Galego de Carvalho² 
¹Fisioterapeuta, Mestranda em Distúrbios do Desenvolvimento pela Universidade Presbiteriana Mackenzie 
²Psicóloga, Docente do Programa de Mestrado em Distúrbios do Desenvolvimento e Coordenadora de Pesquisa da Universidade Presbiteriana Mackenzie 

RESUMO 
O termo Paralisia Cerebral se refere ao grupo de condições crônicas que têm como denominador comum a anormalidade na coordenação de movimento. O desenvolvimento motor dessas crianças não é só atrasado, mas segue um curso anormal, podendo ser influenciado por fatores de risco, do mesmo modo que ocorre com o desenvolvimento de crianças normais. O objetivo principal desta revisão é elaborar um levantamento bibliográfico relacionado à Paralisia Cerebral e possíveis  fatores de risco ao desenvolvimento motor. 
Palavras-chave: paralisia cerebral, desenvolvimento infantil, fatores de risco 
  
INTRODUÇÃO 
A Organização Mundial de Saúde (1999) descreve a paralisia cerebral (PC) ou encefalopatia crônica não progressiva da infância como decorrente de lesão estática, ocorrida no período pré, peri ou pós-natal, que afeta o sistema nervoso central em fase de maturação estrutural e funcional.  
O termo PC é abrangente, apresenta variedade de fatores causadores e descreve a evolução do distúrbio da função motora secundários  à patologia não progressiva do cérebro imaturo (HARE et al, 2000).  
A PC é caracterizada principalmente pela disfunção  motora, contudo, ela é frequentemente acompanhada de outras desordens, como o retardo mental, defeitos sensoriais e epilepsia (MILLER e CLARK, 1998). 
O comprometimento neuromotor da PC pode envolver partes distintas do corpo, resultando em classificações topográficas específicas. A classificação baseada nas alterações clínicas do tônus muscular e no tipo de desordem do movimento pode produzir o tipo espástico, discinético ou atetóide, atáxico, hipotônico e misto (OLNEY e WRIGHT, 1995). A gravidade do 
acometimento neuromotor da criança com PC pode ser  caracterizada como leve, moderada ou grave, baseada no meio de locomoção da criança (PALISANO  et al, 1997; PETERSEN  et al, 1998).  
Shepherd (2002) retrata que os anos iniciais de vida da criança são caracterizados por 
diversas modificações no crescimento e desenvolvimento. O termo desenvolvimento, quando 
aplicado à evolução da criança, significa que com o decorrer do tempo existirá um aumento das possibilidades individuais de agir sobre o ambiente. Para Gallahue (2003) esse ambiente pode, de certa forma, influenciar o desenvolvimento motor de crianças, mais especificamente, de crianças com paralisia cerebral. Pois o desenvolvimento motor não é um processo estático, não é somente  produto de fatores biológicos, mas é influenciado, do mesmo modo, por condições ambientais que interferem na aquisição de habilidades funcionais dessas crianças.  
Dentre os fatores de risco, que aumentam a probabilidade de déficits no desenvolvimento 
motor, o nível socioeconômico da família é um fator que pode interferir no desenvolvimento.  
Segundo Victora et al (1992) algumas pesquisas evidenciaram a importância dos fatores 
socioeconômicos na determinação da saúde da criança. Tem-se considerado a educação da mãe e a renda familiar como elementos básicos, por serem  indicadores de recursos disponíveis e conhecimento ou comportamento em relação à saúde da criança.  
 Esse tipo de abordagem é retomado por Halpern et al (2000) e Eickmann (2003), quando 
mencionam que há relação entre aspectos biológicos  e ambientais, destacando, entre os 
ambientais, os fatores socioeconômicos e demográficos. Deste modo, determinadas situações de 
vulnerabilidade são causadas por fatores biológicos, sociais e do ambiente, interagindo entre si, de forma que problemas biológicos poderão ser modificados por fatores ambientais e vive-versa.     
As crianças com paralisia cerebral também se desenvolvem, só que num ritmo mais lento, contudo o seu desenvolvimento não é apenas atrasado, mas é desordenado e prejudicado, isso por consequência da lesão cerebral (BOBATH e BOBATH, 1989). Portanto, como há desenvolvimento, consequentemente ele pode ser influenciado por fatores de risco. 
Dentre os fatores de risco, estão características familiares, que podem colocar as crianças em maior risco para o seu desenvolvimento saudável. Dessas características podemos citar a 
baixa renda familiar, baixa escolaridade dos pais, elevados níveis de estresse da família, baixos níveis de suporte social, entre outros (FLEITLICH e GOODMAN, 2000; HALPERN e 
FIGUEIRAS, 2004). 

OBJETIVO 
Elaborar e analisar um levantamento bibliográfico relacionado à Paralisia Cerebral e possíveis fatores de risco ao desenvolvimento motor.                    

Paralisia Cerebral: Aspectos Conceituais 

Não existe um conceito suficientemente amplo ou específico sobre PC, isto pode ocorrer 
devido à etiologia e manifestações clínicas variadas. Desta forma, o termo PC se refere ao grupo de condições crônicas que têm como denominador comum a anormalidade na coordenação de movimentos, isto é, transtorno do tônus postural e do movimento. (CÂNDIDO, 2004) Bobath definiu a PC como sendo: 
“[...] resultado de uma lesão ou mau desenvolvimento do cérebro, de caráter não progressivo, e existindo desde a infância. A deficiência motora se expressa em padrões anormais de postura e movimentos, associados com um tônus postural anormal. A lesão que atinge o cérebro quando ainda é imaturo interfere com o desenvolvimento motor normal da criança.” (BOBATH, 1979, p.11)  
Katherine e Ratliffe (2002, p.177) também definem o problema quando descrevem que 
qualquer lesão no cérebro em desenvolvimento que cause dano permanente e não progressivo, que afete a postura ou o movimento da criança é denominado paralisia cerebral.  
A PC é igualmente designada como encefalopatia crônica não-progressiva, causada por 
lesões ocorridas no encéfalo imaturo, em desenvolvimento, tendo como consequência problemas de motricidade, do tônus e postura, com ou sem comprometimento cognitivo (FONSECA, 2004; GAUZZI e FONSECA, 2004). Estas lesões ocorrem nos diversos estágios de maturação, surgindo antes de 3 anos de idade (KOK, 2003) e tendo causas pré, peri ou pós-natais (CORN, 2007) 
 Vários autores consideram o termo PC inadequado, uma vez que significaria o estacionamento total das atividades motoras e mentais, o que não é o caso. Atualmente, tem-se utilizado o termo Encefalopatia Crônica Não Progressiva ou Não Evolutiva para deixar claro o caráter persistente, mas não evolutivo, apesar das  manifestações clínicas modificarem com o desenvolvimento da criança e com a plasticidade cerebral. Contudo, o termo Paralisia Cerebral ainda é útil para diferenciar a PC das Encefalopatias Crônicas Progressivas, que derivam de patologias com degeneração contínua. (CÂNDIDO, 2004).  
Schwartzman (2004) corrobora com esta idéia, quando relata que o nome Paralisia 
Cerebral, ainda que consagrado pelo uso, tem sofrido algumas tentativas no sentido de se alterar esse termo, para um mais apropriado e menos sujeito às interpretações equivocadas. Porém, o extenso e universal uso do termo PC, até mesmo como título de periódicos respeitáveis, e o seu reconhecimento por associações e congressos em todo mundo, seria melhor continuar a utilizá-lo, contudo, respeitando-se as condições atribuídas pelas acepções usuais.

Histórico 
 Em 1843, o ortopedista inglês Willian John Little, pela primeira vez, relatou 47 casos de 
crianças com rigidez muscular, principalmente nos membros inferiores e com menor 
acometimento nos membros superiores. Nessa época, o quadro foi denominado de “Síndrome de Little”. Essas crianças descritas nasceram prematuramente ou por partos complicados e Little sugeriu que este quadro seria resultado de asfixia perinatal. Em 1862, o mesmo autor instituiu a relação entre o quadro da paralisia cerebral e o parto anormal (DIAMENT, 1996; ROTTA, 2001). 
 O termo Paralisia Cerebral foi introduzido por Freud enquanto estudava a “Síndrome de 
Little”. Little acreditava que a causa nos casos expostos permanecia atrelada a circunstâncias 
adversas ao nascimento, ele descreveu a diplegia espástica acarretada por asfixia e lesão cerebral  ao nascimento, em contrapartida Freud relatou que a PC era acarretada por anormalidades pré-natais (PELLEGRINO, 1995). 
Em 1946, a expressão PC foi consagrada e generalizada por Phelps, para diferenciá-la do 
termo paralisia infantil, ocasionada pelo vírus da poliomielite (DIAMENT, 1996). 
Desde o Simpósio de Oxford, em 1959, a expressão PC foi definida como  
“seqüela de uma agressão encefálica, que se caracteriza, primordialmente, por um 
transtorno persistente, mas não invariável, do tono, da postura e do movimento, que aparece na primeira infância e que não só é diretamente secundário a esta lesão não evolutiva do encéfalo, senão devido, também, à influência que tal lesão exerce na maturação neurológica”.  
A partir dessa data, a PC passou a ser conceituada  como encefalopatia crônica não 
evolutiva da infância que, constituindo um grupo heterogêneo, tanto do ponto de vista etiológico quanto em relação ao quadro clínico, tem como ligação comum o fato de apresentar,predominantemente, sintomatologia motora, à qual se juntam, em diferentes combinações, outros sinais e sintomas (DIAMENT, 1996; ROTTA, 2001) 


Etiologia 
 Os problemas durante o processo de nascimento e sinais e sintomas do recém-nascido, 
como o Apgar baixo, estão relacionados com o desenvolvimento de PC, contudo, como na 
maioria dos transtornos, a PC tem múltiplos fatores de risco para o seu desenvolvimento, bem 
como causas e modificadores. 
 Para Shepherd (2002), por mais distintos que sejam os fatores etiológicos, os mecanismos 
patológicos do sistema nervoso central (SNC) são estacionários, não obstante, as manifestações clínicas parecem se modificar ao longo dos anos nas crianças. Essas alterações podem ser advindas dos processos de maturação e adaptação, conseqüentemente, espera-se que elas sejam influenciadas pelas experiências da criança. 
Diversos fatores podem contribuir para ocorrência de PC, e com frequência mais de um 
fator está envolvido. Os pesquisadores da atualidade relutam em atribuir as causas a casos 
individuais de paralisia cerebral, eles acreditam que, na maioria dos casos, diversos fatores 
determinantes podem ser relevantes. Em especial, a asfixia perinatal está diminuindo como causa única da paralisia cerebral (KATHERINE e RATLIFFE, 2002), em contrapartida para Fonseca (2004) ela ainda é a causa mais comum de PC em nosso meio, outras causas são a prematuridade e as infecções do Sistema Nervoso Central (SNC).  
Conforme Rotta (2002), no pré-natal, os fatores etiológicos principais são as infecções e 
parasitoses (sífilis, rubéola, toxoplasmose, citomegalovírus, HIV); intoxicações (drogas, álcool, 
tabaco); radiações (diagnósticas ou terapêuticas);  traumatismos (direto no abdome ou queda 
sentada da gestante); fatores maternos (doenças crônicas, anemia grave, desnutrição, mãe idosa). 
Pode-se citar nesta fase as anormalidades gênicas e cromossômicas, apesar de serem raras. 
Kok (2003) salienta que eventos que circundam o nascimento da criança, ou seja, aqueles 
que ocorrem no período perinatal, podem contribuir  para a paralisia cerebral. Esses                    
acontecimentos podem ocasionar hemorragias intracranianas, encefalopatia hipóxico-isquêmica, encefalopatia por hiperbilirrubinemia e leucomalácia periventricular.  
Rotta (2002) considera que no citado período, pode-se reconhecer o grau de asfixia aguda 
pelas condições vitais do recém-nascido, que é medido pelo Apgar, sendo significativa a asfixia aguda quando mantida em observações sucessivas (1', 5', 10', 15', 20'). O mais importante, no entanto, é a asfixia crônica, que ocorre durante a gestação, podendo resultar num recém-nascido com boas condições vitais, mas com importante comprometimento cerebral. A asfixia crônica está fortemente ligada à insuficiência placentária, na qual resultam fetos pequenos ou imaturos. 
As causas pós-natais podem ser infecções como meningite ou encefalite, traumatismo 
craniano, afogamento, parada cardíaca durante cirurgias, acidentes vasculares cerebrais, tumores, exposição ao chumbo e tromboses pela anemia falciforme. A incidência das causas varia de acordo com a localização geográfica e com a disponibilidade de atendimento médico. 
(KATHERINE e RATLIFFE, 2002) 

Incidência 
 Determinar a incidência e prevalência da PC é uma tarefa complexa, visto que existe uma 
heterogenicidade de conceitos, bem como dificuldades de estabelecer critérios diagnósticos 
uniformes (DIAMENT, 1996). 
A incidência da PC tem se mantido constante nos últimos anos, mas a prevalência varia de 
1,5 a 2,5 por 1.000 nascidos vivos nos países desenvolvidos. Em países subdesenvolvidos estimase que a cada 1.000 crianças que nascem, 7 têm PC , considerando todos os níveis de PC (PIOVENSANA, 2002). Gomes et al (2001) referem que em nosso país é complicado realizar essa estimativa pela falta de dados precisos. Presume-se que deva ser um número elevado, considerando-se as circunstâncias precárias da saúde geral, e em especial, os cuidados dispensados à gestante a ao recém-nascido.                    
Kok (2003) assegura que, apesar de tal situação, existe o avanço dos cuidados perinatais 
que contribui, por um lado, para a diminuição da incidência de PC gerada por problemas como encefalopatia hipóxico-isquêmica, hiperbilirrubinemia neonatal e hipoglicemia.  
Contudo, com o aprimoramento dos cuidados perinatais, ocorre maior sobrevida de 
recém-nascidos pré-termo com peso abaixo de 1.000 gramas ao nascimento, tendo risco 
significantemente maior de apresentar problemas neurológicos, aumentando o número de 
crianças com PC (KUBAN E LEVITON, 1994).  

Diagnóstico 
A PC deve ser diagnosticada por uma equipe multidisciplinar o mais precocemente 
possível. O entendimento entre os elementos da equipe é decisivo para boa evolução, a prevenção é o melhor tratamento. A assistência à mãe e os cuidados no período neonatal são importantes recursos para se reduzir essa grande quantidade de  pacientes, que causam problemas sociais e familiares e, que principalmente, são as maiores vítimas, estando sujeitos a desordens associadas à dor e angústia. (CÂNDIDO, 2004) 
 Os autores Hare, Durham e Green (2000) afirmam que o exame neonatal é indispensável, 
principalmente se o bebê for prematuro ou tiver sido exposto a eventos que acarretam riscos. Os sinais clínicos importantes são: alteração da consciência, como irritabilidade ou diminuição do estado de alerta; perturbações generalizadas e constantes do tônus, convulsões, problemas com a alimentação e assimetrias duráveis de postura e do movimento. Essas crianças precisam passar por exames especializados e recorrentes. 
     Os exames clínicos abrangem medida do crescimento cefálico, desempenho visual e 
auditivo, presença ou não de convulsões e análise do tônus muscular e do movimento.  
Os procedimentos de investigação variam de uma criança para outra, por causa da extensa 
gama de fatores causais distintos, para indivíduos com a causa de história clara, não há indicativo para investigações invasivas, até que a criança tenha adequada idade. Determinadas crianças podem requerer investigação cromossômica, se há suspeita de distúrbio genético. Para diagnóstico diferencial são indicadas provas bioquímicas e imagens neurológicas (HARE, DURHAM e GREEN, 2000).  
 Para Nelson (2004), quando há diagnóstico precoce, os pais têm a oportunidade de 
entender mais completamente e ajudar no desenvolvimento do seu bebê. Entretanto, esse 
diagnóstico precoce pode ser acompanhado por previsões quanto ao futuro dessa criança, isso pode causar forte impressão, devido ao momento de tensão emocional em que essa família está exposta. 

Classificação 
 As formas de classificação da PC mudaram pouco desde a obra de Freud em 1897, desde 
então, diferentes autoridades no assunto propuseram inúmeras classificações, lembrando que, apesar de tal contexto, nenhum desses rótulos diagnósticos é suficiente para formular planos de tratamento adequados (LEVITT, 2001).  
Uma das classificações mais aceitas, referida no quadro 1, foi publicada pelo Comitê da 
Academia Americana de Paralisia Cerebral, em 1956, considerando os tipos de disfunção motora e a topografia dos prejuízos. Esse estudo foi realizado com os membros do Comitê, que responderam a um questionário sobre a nomenclatura e a classificação da PC (MINEAR, 1956).  
Mayer (1997) caracteriza a espasticidade como disfunção do sistema sensório-motor, 
qualificada por aumento do tônus muscular dependente da velocidade, com exacerbação dos 
reflexos profundos, causados pela hiperexcitabilidade do reflexo de estiramento. Um dos 
componentes da síndrome do neurônio motor superior é a espasticidade, que resulta em fraqueza muscular, hipertonia, hiperreflexia e a presença do sinal de Babinski, o reflexo cutâneo-muscular é patológico. A espasticidade afeta o posicionamento articular, impedindo a movimentação do músculo ou grupo muscular antagonista, prejudicando a deambulação e as atividades de vida diária da criança.                     
A hipertonia pode ser pela espasticidade e a rigidez, a justaposição entre elas é de difícil 
diferenciação. A rigidez se manifesta como resistência plástica ou contínua ao alongamento 
passivo em toda amplitude de movimento, já a espasticidade apresenta resistência em um ponto ou percurso reduzido da amplitude de movimento passiva (LEVITT, 2001). 
O tipo atetóide é caracterizado por Kok (2003) como movimentos e posturas anormais 
consequentes à ausência de coordenação dos movimentos e/ou da regulação do tônus. Apresenta sinais de comprometimento do sistema extrapiramidal, apresentação de movimentos involuntários (atetose), distonia, ataxia e, em alguns casos rigidez muscular. A criança se movimenta em padrão de movimento contorcido, entre um extremo da amplitude de movimento para outro. 
A forma hipotônica apresenta, frequentemente, grave depressão da função motora e 
fraqueza muscular (SHEPHERD, 2002). Essas crianças podem ter articulações frouxas, músculos mal definidos, aumento de mobilidade articular e menor força e resistência. Kok (2003) expõe que essa forma é infrequente e muitas vezes institui desafio para o diagnóstico. Na maior parte das vezes o diagnóstico de hipotonia é transitório, pois a maioria das crianças hipotônicas evoluem para os tipos discinéticos ou atáxicos de paralisia cerebral (NELSON, 2004).  
O tipo atáxico apresenta indícios de comprometimento do cerebelo, manifestando-se por 
ataxia. É considerada como raridade na paralisia cerebral, acontecendo frequentemente em 
decorrência de traumatismo craniano e em circunstâncias tais como hidrocefalia não tratada ou mal controlada (SHEPHERD, 2002).  
As manifestações clínicas precoces são a ataxia do tronco quando sentado, a dismetria e a 
incoordenação motora, seguidas de atraso no desenvolvimento, entretanto, o quadro pode não se tornar manifesto até o segundo ano de vida (GAUZZI e FONSECA, 2004). A hipotonia é comum nos casos atáxicos (LEVITT, 2001). 
Nelson (2004) expõe que, nas formas mistas da paralisia cerebral, as características 
podem ser uma combinação das formas espástica, atetóide e atáxica. A criança pode mover-se de um padrão postural ao outro.                       
De acordo com a distribuição do comprometimento motor, a PC é classificada como 
quadriplégica, hemiplégica e diplégica. Alguns autores consideram, igualmente, os termos dupla hemiplegia, monoplegia e triplegia, porém, para Shepherd (2002) a monoplegia pura ou a triplegia provavelmente não existe, embora alguns casos pareçam enquadrar-se nessas categorias. 
A paralisia cerebral do tipo hemiplégica é caracterizada por déficit motor e espasticidade 
unilateral. A lesão ocorre em um lado do córtex ocasionando a deficiência motora no lado 
contralateral do corpo, as alterações iniciais se tornam evidentes por volta do quarto mês de vida com a preferência unilateral para alcance de objetos, ou seja, a criança terá dificuldade de utilizar o braço ou a perna do mesmo lado do corpo (GAUZZI e FONSECA, 2004).  
Os teóricos Effgen (2007), Bobath (1979), Bobath e Bobath (1989) afirmam que uma das 
características principais da diplegia espática é o comprometimento bilateral dos membros 
inferiores e superiores, com maior funcionalidade dos membros superiores, quando comparado aos membros inferiores, por consequência de maior grau de espasticidade presente nos membros inferiores.  
Gauzzi e Fonseca (2004) descrevem a tetraplegia espástica, conhecida também como 
quadriplegia, que é considerada a forma mais grave  das paralisias cerebrais, isto por causa do acometimento bilateral (simétrico ou assimétrico), inclusive de tronco, muitas vezes, por lesão ampla do encéfalo.  
Existe aumento do tônus da musculatura extensora e  adutora dos membros inferiores e 
flexora dos membros superiores, sendo os membros superiores comumente mais acometidos. As alterações motoras podem ser assimétricas, levando  ao quadro designado como dupla hemiparesia, ou comprometimento mais espástico de três membros. Complementando, Kok (2003) relata que esse tipo de paralisia cerebral comumente, vem associada à microcefalia, epilepsia e deficiência mental, além de dificuldade de controlar a musculatura de mastigação e deglutição.  
A PC pode ser classifica, ainda, pelo Sistema de Classificação da Função Motora Grossa 
(Gross Motor Function Classification System  - GMFCS) que foi criado com a finalidade de 
facilitar e uniformizar a avaliação do grau de acometimento motor em crianças com PC. O                    
objetivo é classificar a função motora grossa da criança em uma determinada época, mas não julgar a qualidade do movimento ou o potencial de melhora. 
Conforme Palisiano et al (1997) as diferenças entre os níveis têm como base as limitações 
funcionais, a necessidade de auxiliares de locomoção e cadeira de rodas. As crianças são 
classificadas em 5 níveis, a classificação da função motora depende da idade, por isso existem os 4 grupos de idade seguintes: crianças menores de dois anos, entre dois e quatro anos, entre quatro e seis e entre seis e 12 anos. Palisano et al (2007) complementou a classificação, criando a versão expandida que incluiu o quinto grupo de crianças de 12 a 18 anos, com ênfase em conceitos inerentes a Classificação Internacional de Funcionalidade, incapacidade e Saúde (CIF).  

Desenvolvimento Motor e Habilidades Funcionais  
Ainda que o desenvolvimento seja, com frequêcia, considerado como o aparecimento e a 
ampliação da habilidade do indivíduo para funcionar em nível superior, devemos reconhecer que o conceito é amplo, um processo permanente e contínuo, incluindo todas as dimensões 
interrelacionadas de nossa existência (GALLAHUE, 2003). 
Thelen (1995) relata que a habilidade do desenvolvimento motor foi o primeiro tópico no 
estudo científico da infância. Muito antes de psicólogos desenvolvimentistas ficarem interessados na vida mental da criança, existia uma rica tradição de cuidados descritivos e estudo de como as crianças cresciam e se desenvolviam. 
Camargos e Lacerda (2005) complementam, analisando que as modificações ocorridas ao 
longo do desenvolvimento são elementos de estudos sob o ponto de vista de diversas teorias. 
Durante muitos anos, o desenvolvimento motor foi elucidado pelo ponto de vista neuromaturacional, no qual as alterações no comportamento motor se deviam unicamente à 
maturação do sistema nervoso. A teoria dos sistemas dinâmicos, mais aceita atualmente, 
assinalou que o comportamento motor não é influenciado exclusivamente pelo sistema nervoso, mas também, por outros fatores, como os psicológicos e os ambientais. 
As teorias citadas acima não são as únicas referentes ao desenvolvimento motor, mas são 
as mais discutidas, porque representam distintas perspectivas teóricas do desenvolvimento.                     
A Teoria Neuromaturacional, que é o modelo tradicional, proporciona a estrutura para 
muitas das técnicas utilizadas no tratamento da Fisioterapia e Terapia Ocupacional. O principal pilar da teoria propõe que as mudanças nas habilidades motoras grossas durante a infância resultam unicamente na maturação neurológica do Sistema Nervoso Central (SNC). A maturação é caracterizada pelo aumento da mielinização do SNC e concomitante inibição dos núcleos subcorticais do cérebro pelo maior funcionamento do córtex cerebral. Este modelo pressupõe que as instruções, ou “plano”, para surgimento de habilidades motoras é codificada no cérebro. O córtex cerebral é entendido como o centro organizacional para controle motor e as mudanças nas habilidades motoras estão intrinsecamente orientados e o impacto do meio ambiente desempenha um papel secundário no surgimento das habilidades motoras. Em todas as fases do desenvolvimento motor, a influência intrínseca do SNC transcende qualquer efeito que o ambiente pode contribuir (PIPER e DARRAH, 1994). 
Contudo, segundo Thelen (1995), a Teoria dos Sistemas Dinâmicos preconiza que o 
desenvolvimento surge da influência mútua entre os fatores intrínsecos, como a força muscular, o peso corporal, o controle postural, o estado emocional do bebê e o desenvolvimento cerebral, e fatores extrínsecos, tais como as condições do ambiente e da tarefa. Ela reconhece também o nível maturacional do SNC como componente importante para a ocorrência da tarefa, mas não é o único fator existente.  
Deste modo, o desenvolvimento, em seu sentido mais puro, refere-se a alterações no nível 
de funcionamento do indivíduo ao longo do tempo, e  o desenvolvimento motor é a sucessiva 
alteração no comportamento ao longo da vida, efetivado pela interação entre as necessidades da tarefa, a biologia do indivíduo e as condições do ambiente (GALLAHUE, 2003). 
Complementando a caracterização dos termos, o mesmo autor refere que a habilidade 
motora é abrangente e congrega as três categorias de movimento: a locomoção, a manipulação e o equilíbrio. O estudo das habilidades motoras norteia-se para o processo, incluindo a observação da mecânica do movimento e a tentativa de perceber as causas subjacentes que o alteram. Sendo assim, pode-se estar interessado em um aspecto da área psicomotora, quando este se relaciona à compreensão do desempenho motor e aplica-se ao desempenho de habilidades motoras quanto à idade, ao sexo ou à classe social. O termo motor, quando empregado sozinho, refere-se aos fatores biológicos e mecânicos que influenciam o movimento. Contudo, esse termo raramente é utilizado sozinho, serve de sufixo ou de prefixo em algumas palavras.  De acordo com Bobath (1979) durante o crescimento e a maturação da criança sucedem amplas alterações no desenvolvimento motor normal, bem como no anormal.  
A criança com paralisia cerebral também se desenvolve, contudo, num ritmo mais lento. 
Seu desenvolvimento não é só atrasado, mas segue um curso anormal. Todas as crianças com paralisia cerebral atingem os seus marcos motores mais tarde quando comparadas com as crianças normais, e tal constatação é independente da inteligência e grau de comportamento. Isto não ocorre somente nas crianças com quadriplegia, mas também nas diplégicas e hemiplégicas (BOBATH e BOBATH, 1989).  
Dando continuidade à análise do mesmo autor, observa-se que as atividades motoras 
anormais surgem quando a criança se torna mais ativa, isto é, quando ela se sentar, usar suas mãos e braços, levantar, ou quando ela tentar andar, apesar de seus problemas físicos.  
A espasticidade, atetose e ataxia aparecem no citado momento, e as mesmas se tornam 
mais aparentes com o tempo, e a anormalidade dos padrões de movimento e da postura da criança tornam-se mais evidentes. Este desenvolvimento e o aumento da atividade anormal interferem, e tornam impossível, o desenvolvimento motor normal. A criança, deste modo, tenta funcionar com padrões motores, utilizando as partes menos afetadas ou não afetadas de seu corpo, para compensar. Muitos dos padrões fundamentais do desenvolvimento motor, que emergem na criança normal, em certos estágios do crescimento, como o preparo para atividades futuras mais complexas, estão ausentes.  

Fatores de Risco para o Desenvolvimento 
Os infantes que residem em países em desenvolvimento são expostos a múltiplos riscos, 
entre eles o de apresentarem elevada prevalência de doenças, nascerem de gestações incompletas ou com complicações e viverem em condições socioeconômicas adversas (ESCALONA, 1982).  
Para Halpern et al (2000) tais crianças enfrentam um amplo desafio: além de serem mais 
susceptíveis a complicações perinatais, são igualmente sujeitas a ambientes familiares adversos, onde a estimulação e o suporte social são impróprios. Esta combinação de acontecimentos aumenta o risco de atraso em seu desenvolvimento cognitivo, físico e social.  
O desenvolvimento é um processo de transformações complexas e interligadas das quais 
participam juntos os aspectos de crescimento e maturação dos sistemas e aparelhos de todos os organismos vivos. Toda criança apresenta o seu próprio padrão peculiar de desenvolvimento, levando em consideração que suas características fundamentais sofrem impacto constante de uma cadeia de transações que se passam entre a criança e seu ambiente (BURNS e MACDONALDS, 1999). 
Quando falamos de influências no desenvolvimento das crianças, nos reportamos aos 
riscos, e com isso, devemos pensar em dois tipos de interação: a interação da criança como um organismo biológico relacionando com o seu meio social imediato, constituinte pela família (microssistema), em que acontece uma série de processos, eventos e relacionamentos; e a interação que reporta à relação desse sistema com o meio ambiente, no seu significado mais amplo (exossistema ou macrossistema) e através do tempo (cronossistema). O presente modelo delineia as relações existentes entre os diversos sistemas que influenciam a vida da criança, descritos na teoria ecológica do desenvolvimento, que propõe um modelo onde o desenvolvimento ocorre pelos processos de interação mútua, progressivamente mais complexa entre a criança e todos os níveis de influência do meio ambiente (BRONFENBRENNER, 1996). 
Segundo Lewis et al (1988), os riscos para o desenvolvimento podem estar presentes na 
própria criança (componentes biológicos, temperamento e a própria sintomatologia), na própria família (história e dinâmica familiar) ou no ambiente (nível socioeconômico, suporte social, escolaridade e contexto cultural). Para alguns autores essa classificação, embora didática, frequentemente pode não retratar a realidade, pois em certas circunstâncias há a superposição de fatores biológicos e ambientais, ocasionando maior  possibilidade da ocorrência de agravos (ALLEN, 1993; BEAR, 2004; HALPERN et al, 2000; SAMEROFF, 1998,  ANDRACA et al, 1998). Observa-se que, quanto maior o número de fatores de risco atuantes, tanto biológicos quanto ambientais, maior será a possibilidade do desenvolvimento da criança ser comprometido (HALPERN et al, 2000; GRAMINHA, 1997).                     
Define-se como risco a maior possibilidade que a pessoa ou o grupo de pessoas tem de no 
futuro sofrer agravo em sua saúde. Já os fatores de risco são características ou circunstâncias 
individuais, ambientais ou sociais dos sujeitos ou  grupos associados com aumento da 
probabilidade de ter dano à saúde (Sarue et al, 1984 apud RESEGUE et al, 2007)  
Grizenko e Fisher (1992) propõem que o fator de risco é um componente que, quando 
presente, causa acréscimo da possibilidade de surgimento de problemas. Sendo assim, o fator de risco poderá aumentar a vulnerabilidade da pessoa ou grupo em desenvolver determinada doença ou agravo à saúde.  
Halpern  et al (2000) realizaram um estudo coorte com 1.363 crianças nascidas nos 
hospitais de Pelotas (RS) no ano de 1993. As crianças foram avaliadas aos 12 meses quanto ao desenvolvimento neuropsicomotor, através da aplicação do teste de Denver II. Verificou-se que os indivíduos que apresentavam maior risco de suspeita de atraso em seu desenvolvimento foram os que apresentaram: níveis socioeconômicos mais desfavorecidos; baixo peso ao nascer; idade gestacional menor do que 37 semanas; mais de três irmãos e aqueles que haviam recebido leite materno por menos de três meses ou não haviam sido amamentados. As crianças de mais baixa renda apresentaram duas vezes mais chance de ter o teste de triagem com suspeita de atraso no seu desenvolvimento neuropsicomotor, quando confrontadas com as crianças com melhor renda. 
De acordo com o grau de instrução das mães, as crianças filhas de mães analfabetas tinham maior chance de suspeita de atraso no desenvolvimento.  
O resultado da pesquisa analisada reforça a particularidade multifatorial do 
desenvolvimento e o conceito de efeito cumulativo de risco. Na população estudada, a parte mais desfavorecida acumula os fatores (sociais, econômicos e biológicos) que determinam maior chance de atraso no desenvolvimento das crianças.  
O capital (recursos) transformou-se num modo de pensar favorecido sobre o Nível Sócio 
Econômico (NSE), porque o acesso ao capital financeiro (recursos materiais), ao capital humano (recursos não-materiais tais como instrução) e ao capital social (recursos conseguidos através das conexões sociais) é prontamente conectável aos processos que afetam diretamente o bem estar. O capital é ligado às idéias históricas sobre o NSE,  tal como o social e a “privação material” e trazem no foco, uma dimensão importante de relacionamentos sociais (KRIEGER, 1997).                     
Contudo, Miranda, Resegue e Figueiras (2003) ressaltam que, os riscos ambientais estão, 
em parte, relacionados com a miséria, mas não são unicamente dependentes dela, pois a maioria deles, tal como os acidentes, a negligência e as outras formas de violência doméstica ocorrem em todos os níveis socioeconômicos.  
O NSE permanece, então, um tópico de grande interesse aos pesquisadores que estudam o 
desenvolvimento de crianças (BROOKS-GUNN e DUNCAN, 1997), é um dos construtos mais 
extensamente estudado nas ciências sociais. Foram propostas diversas maneiras de medir o NSE, mas a maioria inclui alguma quantificação de renda da família, da instituição parental e do status ocupacional (BRADLEY e CORWYN, 2002). 
 Para as crianças, o NSE tem impacto no bem estar em níveis múltiplos, incluindo a 
família e a vizinhança. Seus efeitos são mediados pelas próprias características das crianças, 
características da família e os sistemas de apoio externo (BRADLEY e CORWYN, 2002). 
Dowding e Barry (1990) relatam que os estudos que envolvem a relação entre classe 
social e PC são limitados, por causa do pequeno número de participantes, isso dificulta a 
generalização das observações encontradas.  
 Os autores citados acima fizeram um estudo retrospectivo da população da República da 
Irlanda baseado em todos os casos de PC. Houve significativo aumento na prevalência global da PC, com a diminuição do status da classe social. Os resultados da pesquisa mostraram uma nítida prevalência da hemiplegia e diplegia com o aumento da desvantagem socioeconômica na Irlanda. 
Isto sugere que os fatores ambientais desempenham um papel importante na etiologia dessas síndromes, mas não existiu nenhuma evidência da contribuição deste tipo de fator nos tipos restantes de PC. Houve uma significativa tendência da classe social na prevalência somente de casos severo de PC. O efeito da classe social pareceu ser concentrado entre as crianças com peso normal ao nascimento e afetar mais os casos severos do que os casos mais leves de paralisia cerebral. 
 Nenhum consenso surgiu em estudos anteriores sobre a relação da PC e da classe social, 
mas tem havido falta de estudos adequados, especificamente concebidos para responder a esta questão.                     
Considerando-se todo o exposto, pode-se compreender que a criança com paralisia 
cerebral, além do impacto da própria lesão cerebral, é capaz de sofrer influências de fatores de risco que interferem em seu desenvolvimento motor, levando a um comprometimento em suas habilidades funcionais de vida diária e função social.  

REFERÊNCIAS encontra-se na pagina original do artigo

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Um comentário:

  1. oi rafa, a indicaçao do artigo foi mto boa. é minha primeira vez aqui no blog e eu queria saber se vc eh medico, fisioterapeuta, etc...abços

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